Sala de Aula

Escola de Educação Infantil Saint Anne

O toque estridente do despertador despertara Boone de um pesado sono pela manhã fria. O motivo: acompanhar o sobrinho predileto ao primeiro dia de aula ma escola de educação infantil Saint'Anne. Bom, o pai lecionava em Hogwarts e a mãe - irmã de Boone - deveria estar ocupada com qualquer outra coisa muito importante, para não acompanhar o pequeno num dia de suma importância em sua vida. Não entrou em detalhes e nem quis saber, para ele era um prazer se fazer presente nessa ocasião.

Na base do tapa o adulto se posicionara frente ao espelho, os olhos pesavam, só assim para que efetivamente, conseguisse se manter em pé - Charl... acorda dorminhoco. Charl, vamos. Você vai se atrasar para o seu primeiro dia de aula - sussurrava aos ouvidos dele do jeito mais brando que conseguia. Se para ele, que já era homem feito, era difícil madrugar, imagina a uma criança em que o repouso é essencial a seu crescimento.

Enquanto o pequeno resmungava por ser virado para lá, levantado para cá pela babá. Boone aproveitava para se trocar no banheiro, dar uma aparada na barba que crescia vertiginosamente feito erva daninha. - Pode deixar, hoje eu me encarrego de levá-lo. - Disse à elfa que parecia estar mais apreensiva que o normal, como se ela própria fosse a escola - Não, a mamãe já conversou com você. Você precisa ir para escola. - Boone pegou o sobrinho no colo que ia com a mochilinha nas costas e, aparatou próximo da escolinha.

- Opa... não foi nada - pegando um paninho de dentro da mochila do pequeno para limpar o próprio ombro e a boca dele que acabavam de ficar sujos de vômito. Engraçado, Charlie estava acostumado com aparatação desde bebê e também não havia comido nada pela manhã, pois tomaria café junto das outras crianças. Seguiu com o chorão no colo, tentando ao máximo não ceder aos seus pedidos de "quero ir pra casa... quero minha mãe". Agora Boone começava a desconfiar do porquê Sarah ter pedido para ele levar o sobrinho no lugar dela, ele sempre fora mais rígido com o garoto. Se fosse com a mãe, com certeza ambos já teriam voltado para casa uma hora dessas, com ela no choro em vez do filho. - Pronto, boa aula Charl - colocou-o no chão cerrado à porta da sala de aula. Forçava uma expressão mais séria, embora estivesse penalizado pelas súplicas do sobrinho.

- Não tio Boo. Eu não 'quelo' ir pra escola - Charlie coçava os olhinhos que doíam por terem de se abrir tão cedo. Revirou para um lado, os cabelos eram acariciados pelo tio, espreguiçou-se para o outro, e Kitty vestia nele com sacrifício o uniforme - Kitty, fala pro tio Boo que eu não 'telo' ir. Minha boca tá doendo. - apontando para dentro da cavidade oral.

- BbbwwwWWWWaaahaHHH! - Charlie iniciara um choro sem fim, não estava se sentindo bem. A cabeça latejava, sentia calafrios por todo o corpo, tudo que gostaria era de ficar deitado - BBbwwwwaaaaaHHH! Eu não 'quelo' ir pra escola tio Boo! - em meio aos soluços quase perdia o fôlego.

O tio o pegou no colo, Charlie já estava exausto do choro que não havia adiantado de nada. Ninguém podia lhe entender. O redemoinho causado pela aparatação bagunçou ainda mais os sentidos do menino - Bléééérghhh! - deu um colorido a mais à camisa do tio. Por mais que a boca fosse limpa na toalhinha azul bebê, o gosto amargo não ia embora. O garoto chorava e chorava, desde a semana anterior que ele não conseguia falar em outra coisa. Arrumava os pergaminhos, os tinteiros com todas as cores do mundo e toda noite, antes de dormir, perguntava à elfa babá se quando ele acordasse teria chegado o dia de ir para escola. E ele finalmente chegara, mas Charlie não se sentia preparado para passar um dia inteirinho longe da mamãe, da babá, dos tios e de todos os outros que o mimavam.

- Bwwwaaah... tio Boo eu 'quelo' minha mãe! Eu 'quelo' ir pra casa! - gritava aos ouvidos desse, sentia muita dor no corpo - Tio Boo, eu não 'quelo', eu não 'quelo', eu não 'quelo' fica aquiii! - Charlie se atirou no tio dando as costas para o restante da classe.

O desespero do pequeno era angustiante, Boone precisava ser forte ou seria manipulado pela birra dele - Charl, olha só a vergonha que você tá passando na frente de seus coleguinhas. Ninguém aqui tá chorando, só você. - Não sabia ao certo se soaria como um estímulo, mas que ele era o único a chorar, isso era. Boone se abaixou ao ter as pernas agarradas pelo sobrinho, na altura dos olhos dele - Charl, pare de chorar - em tom sério - você não tem motivos para chorar, até agora. - Ergueu a mão direita em ameaça, como se gesticulasse um tapa. Charlie o estava tirando do sério. - Eu sei, mas vai passar rápido, você vai gostar daqui. - amoleceu a postura com um abraço na criança.

Foi então que Boone notou que o pequeno estava quente. Aproximou as mãos às bochechas e depois à testa dele, para dirimir qualquer dúvida. Sim, o pobrezinho queimava em febre. Imediatamente, Boone o pegou no colo - Não, não. Ele tá com febre, vamos direto ao Mungu's - disse à professora que assistira a toda cena e nem para ajudá-lo no início. - Fecha os olhos, Charl - solicitava ao pequeno que parecia um pouco mais tranquilo só de sair do colégio. Ainda na calçada da escolinha, Boone desaparatou com o sobrinho. Saíram de lá.