Joshua Tree Park

Começo de tarde, o relógio já havia passado do cume. Os raios de sol fúlgidos aqueciam a terra árida, trazendo a sensação térmica que não era das mais costumeiras naquela época do ano. Boone caminhava pela entrada do parque com tranquilidade e uma dose extra de protetor solar sobre a pele branca. Espreguiçou-se até a extremidade do último músculo da parte superior do corpo, embora tivesse acabado de chegar, tinha vontade de partir no mesmo instante.

Seguiu pela trilha principal e em pouco menos de meia hora de caminhada, já havia consumido toda água trazida em uma garrafa térmica. O jovem levou a mãos ao olhos para conseguir enxergar as quatro direções que lhe rodeavam, apenas por cautela, àquela hora por lá. Poucos eram os que se atreveriam. Boone contava com uma vantagem, a animagia adquirida há alguns anos, mas nem por isso poderia deixar de ser trabalhada e aperfeiçoada com frequência.

Estava diante de um rochedo perfeitamente esculpido por todo tipo de intempérie da natureza. De olhos cerrados, concentrou sua energia a um só objetivo, mesmo que o calor excessivo, a luminosidade e a sede fossem obstáculos duros a se superar. A figura do leão era tudo que vinha em mente. Abriu os olhos como se os arregalasse e a trepidação dos pelos da juba pelo vento, indicavam que ele havia conseguido realizar a transformação com êxito.

O ar quente logo ressecou as narinas da fera que respirava com a boca escancarada e com certa dificuldade. O leão sacudiu bem a cabeça com força para os lados, era hora de enfrentar a escalada. Sem pressa, escalou o acumulado de rochas calculando cada passo que dava, pois os pedregulhos tinham aspecto arenoso.

A vista do topo era magnífica, valia cada gota de seu suor. Por mais que estivesse num deserto, que não é uma das paisagens mais bonitas de se contemplar, as formas de vida existentes, por sobreviverem àquelas condições, tornavam-se dignas da mais profunda admiração.

Era muito difícil de manter os olhos apurados abertos devido à proximidade com o astro-rei e mais ainda se manter na condição de animago. Com a mesma cautela de antes, o leão desceu o rochedo pelo lado oposto ao que o escalara. Seguiu a vegetação rasteira parando em frente a um amontoado de cactos.

A fera parecia brincar com as garras nos espinhos, que não eram lá muito afiados, com ferocidade. Direcionou as arranhadas no caule, justo na região onde há mais espinhos, porém a que guarda o segredo da vida daquele tipo de vegetal que é capaz de suportar temperaturas tão extremas. Utilizava-se agora dos dentes para perfurá-lo, alcançando seu interior. A água não demorou para aparecer e o animago tomava o líquido numa velocidade inversamente proporcional ao que era produzida.

Quando a garganta já estava um pouco mais lubrificada, o leão adulto se atirou contra o solo. Agora era Boone que estava sobre a terra seca, não mais a fera, exaurido. Ele clamava por uma soneca. Fez massagem nas próprias têmporas, seria melhor partir, encarar a desidratação até vai, mas insolação, não estava nem um pouco a fim. Concentrou-se num ponto fixo e aparatou de lá. Boone deixou o local.