Praia de Bondi

Joseph não sabia o que o havia influenciado a voltar para a Austrália naquele dia. O homem já morara em diversos lugares ao longo de sua vida, incluindo Paris, Berlim, New York e Sydney. Embora ele vivesse em constante mudança por questões de necessidade, Joseph não costumava apegar-se a uma cidade em especial; com exceção, talvez, da que se encontrava agora. O tempo em que passara ali foi bom; naquela época, ele realmente pôde crer que seria feliz novamente. Sua vida parecia ter endireitado-se, e tudo parecia estranhamente certo e sob controle. Mas, infelizmente, esta nunca foi a realidade do professor de feitiços. Segurança, família e lar nunca estiveram em seus planos; até porque, se estivessem, seriam apenas mais sonhos a dar errado. — Quanta melancolia. — suspirou para si mesmo. Ele odiava pensar sobre sua vida; era taxado de inconsequente por si mesmo por nunca parar para pensar sobre um assunto. Decisões rápidas; essas eram as melhores palavras que poderiam ser usadas para descrevê-lo. Joseph arrumou os óculos escuros sobre os olhos claros, protegendo-os dos raios solares. Ele caminhava na Praia do Bondi, uma das mais famosas do local. A areia quase branca queimava seus pés descalços — ir com qualquer sapato à praia era estupidez —, enquanto a água cristalina ameaçava aproximar-se. O professor achava que merecia algum descanso; ele tinha esquecido o quão complicado era dar aulas para bruxos tão jovens. Ele costumava trabalhar com os mais velhos, de dezessete anos, e uma vez até deu aulas em uma universidade bruxa, na América Central; seu emprego neste local pouco durou, já que, aparentemente, um professor "pegar" uma aluna era contra as regras. Joseph soltou uma risada abafada ao lembrar-se da cara do diretor do instituto ao pegá-los juntos. Aquilo fora dois anos antes... espere, fazia dois anos que o homem não tinha algum relacionamento ou contato "sério" com uma mulher? Ao que parecia, era isto mesmo. Joseph não lembrava-se como era estar na companhia de uma moça, não depois de tanto tempo. Refletia sobre isso até uma parte de seu cérebro lembrar-lhe que ele estava em uma praia, onde mulheres gostam de ficar com pouca roupa e tomar sol, exibindo seus corpos. O homem ergueu o olhar, dando uma "conferida nos produtos". Todas lhe pareciam iguais; os mesmos corpos, cabelos, olhares. Tudo completamente padrão. Com exceção de uma. Ela estava deitada de bruços, e suas roupas de banho permitiam que ele analisasse suas curvas com olhos críticos. Ela era realmente bonita; o suficiente para ser modelo. E, parou Joseph para pensar, talvez o fosse. Com calma e jeito de quem não quer nada, ele aproximou-se dela. Acomodou-se na areia, perto dela, ainda sem dizer uma só palavra. Notando que a mulher não havia o visto — ou talvez sim, e apenas estivesse esperando uma primeira palavra; porque geralmente é isso que mulheres fazem, esperam a "iniciativa" —, resolveu se pronunciar. — Suas costas estão vermelhas. — disse, encarando o horizonte. — Protetor solar é o mais recomendado se a senhorita não quer virar um camarão. — findou a sentença com um sorriso de canto, apoiando os braços em seus joelhos, que permaneciam levantados.

A mulher pareceu ter ouvido as palavras de Joseph, pois logo virou-se para ele. Seu corpo de modelo foi confirmado aos olhos dele; suas curvas eram notáveis e belas. A desconhecida pegou o protetor e, como era de esperar-se, pediu ao docente que o passasse em suas costas avermelhadas, virando-se e retirando os cabelos escuros da frente. Joseph permaneceu olhando-a por sob os óculos escuros, com o protetor em mãos. Ela dissera algo sobre se chamar Heather, mas ele resolveu realmente não dar muita importância para o sobrenome. A bela mulher ainda desculpou-se, alegando não alcançar suas costas. — Sem problemas. Entendo como é isso. — Joseph abafou um riso rouco ao respondê-la. Típica desculpa, a dela. Não era a primeira vez que aquilo acontecia. Virando-se para as costas dela, abriu o protetor solar e, com algum esforço, passou-o para suas mãos. Com calma, começou a passá-lo primeiro pelos ombros de Heather, com calma e em movimentos circulares, espalhando bem. Depois, desceu um pouco, espalhando o protetor de modo eficiente na região onde o biquíni prendia-se. Suas mãos passaram ali com cuidado para não desfazer o pequeno laço que segurava a parte de cima de sua roupa de banho, embora talvez quisesse o fazer. Somente talvez. — Desculpe-me. — disse, quando sem querer, moveu um pouco a peça dela; nada demais. Passou mais protetor nas mãos e desceu-as até a cintura e o meio de suas costas, esfregando bem o creme branco naquele local. Ao terminar, tirou suas mãos dela e voltou ao seu lugar, jogando o tubo quase vazio de protetor na toalha dela. — Pronto. — falou, limpando as mãos na bermuda. — Ah, a propósito, me chamo Joseph. Joseph Bhöurscheidt. Mas, como você mesma disse, nomes não importam. — comentou, ajeitando os óculos no rosto e voltando-o para ela. — Mas então, Heather, me responda uma coisa... — Joseph disse, e sorriu de canto. — ... você é modelo?