Salão de chá para os visitantes

- Ain que Sono... - Os dias no hospital estavam cheios de trabalho. A maioria dos pacientes crianças ou adolescentes, com as férias muitos alunos chegavam doentes ou com machucados. Essa época do ano era a que mais tinha epidemia de gripes e viroses. Hoje, o dia estava mais calmo. Graças á Merlin!  Aproveitei o pouco tempo de descanso que teria para ir ao Shopping do hospital. Eu precisava de um café, um café bem forte. Apoiei os braços sobre o balcão -Um Café bem forte, por favor! -Pedi para uma das atendentes. Peguei a xícara e andei em direção a uma das mesas, quando um garoto caiu na minha frente e se machucou, sangrando o rosto.  Larguei a xícara em uma mesa qualquer e ajudei o garoto a se levantar. Fitei-o, ele não havia se machucado muito, apenas cortado o lábio. Peguei um lenço no bolso do meu jaleco e dei para que o garoto cobrisse o machucado. Sabia que aquilo não era a melhor forma a se fazer, mas querendo ou não já ajudava o moleque.  Logo um enfermeiro veio busca-lo, levando-o. Pego novamente minha xícara de cafe sobre a mesa e caminho ate uma mesa. Uma das cadeiras era ocupada por uma senhora. Sentei-me na outra cadeira, de frente para ela. Estirei meu braço e recolhi um Profeta Diário e comecei a folheá-lo enquanto esperava dá o Horário de ir para casa.

Constance recebera uma proposta um tanto quanto recusável: palestrar para uma turma de alunos de uma universidade bruxa mundialmente conhecida voltada para poções e líquidos mágicos. Seu vasto conhecimento nesta área já a proporcionou várias eventualidades, mas teve que admitir que ao ser convidada não pôde deixar de dar pulinhos de alegria. Já fora convidada para lecionar em pequenas instituições como mestre em poções, mas seria a primeira palestra que daria em sua carreira. E seria logo na sua área de trabalho. Ha ha, isto era ótimo! Nada melhor para se concentrar do que num lugar já familiar. O Hospital St. Mungus era um lugar bom, calmo até, em comparação com os da África, onde ficavam lotados de pessoas doentes – embora fosse pouco os que tinham acesso tanto à medicina bruxa quanto trouxa. Os hospitais da África eram os mais críticos de todo mundo. Não havia médicos suficientes para atender a enorme demanda de adoecidos, ainda mais num lugar tão pobre que mal tinha comida para alimentar metade do país. E isso resultava em várias doenças.

- Dez minutos. – Dissera alguém em seu ouvido, num sussurro discreto. Pela voz doce e calma, provavelmente era a Diretora. Mas pouco prestou atenção, já sabia que horas eram, Constance consultava o relógio no pulso esquerdo a cada dez segundos. Do outro lado das cortinas havia mais de meia dúzia de jovens entre vinte e vinte e cinco anos, e todos cabiam em perfeita harmonia na sala disponibilizada por Katherine no quinto andar. Precisou que aumentar magicamente a sala é claro, embora fosse um lugar um tanto espaçoso, não teria porte para acomodar os presentes ali. Provavelmente, nem caberia a vestimenta preparada pela a mulher naquele dia tão importante. Um tanto chamativa, tinha que aceitar – banhada num vermelho escuro, o vestido de Constance caía por seus ombros e descia até o chão, numa cauda em forma de leque. A mulher foi educada a gostar de sua aparência e do seu corpo do jeito que era – por isso, em algumas vezes, era taxada de desleixada -, mas também gostava de se cuidar. Admitia que vez ou outra preparava algumas poções embelezadoras para recuperar a elasticidade da pele. Pois é, quarenta anos não era pra qualquer um, um passo para a cova praticamente. A velhice era a fase mais impiedosa do ciclo da vida: o organismo vai perdendo seu vigor, a pele vai ficando enrugada e seus fios vão tomando um tom esbranquiçado, enquanto seus músculo, ossos e articulações vão diminuindo seu rendimento.

Seus pensamentos, porém, foram afastados com uma potente salva de palmas que retumbou nas paredes de pedra. Com um cutucão nas costas, foi jogada para o palco. Mas já passou os dez minutos? Meu Cristo. Pensou, retornando a atenção para a realidade e tomando conta para não tropeçar nas próprias pernas. Atrás do pedestal, pigarreou e deu início à uma longa noite. – Olá a todos! – Disse um tanto nervosa. Sua voz retumbou pelo grande espaço de forma grotesca, mesmo sem auxílio da magia de ampliação de voz. Encarou cada rosto ali, os olhos dos anfitriões esbugalhado e pregados na bruxa.  – Soube que não estaria na presença apenas de adolescentes universitários, mas também de cientistas e educadores que desejam ir mais a fundo neste tema que não só se resume na mistura de ingredientes mágicos e não-mágicos. Portanto, decidi começar com uma breve introdução, sobre o que é, precursores e etc. – A mulher deu uma leve tossida, arrumando os vários pergaminhos posto de forma desajeitada na base do pedestal.

- Costumo associar as poções com uma pintura, um quadro, cuja mistura de substancias resultam num efeito que causa diversas emoções – tristeza, felicidade, raiva e afins -. Mas como todos sabem, poções não servem apenas para modificar o seu humor, mas também como auxílio transfiguratório para àqueles que não se dão tão bem com feitiços dessa área, ou então para ilusionar, estimular e afins. Mas afinal, quem os inventou? Quem deu origem à esta complexa arte de líquidos mágicos? Quem teve essa ideia certeira que hoje tanto nos ajuda para a cura de doenças e etc.? - As perguntas flutuaram no ar. Nenhuma resposta, nenhuma manifestação. Isso era bom, visto que a pergunta fosse mais teatral do que realmente um assunto para debater. Após uma pequena pausa dramática, a mulher saiu de traz do púlpito, revelando-se por completo, dirigindo alguns passos para a sua direita. - A história é algo incerto, meus caros. A única forma de entendê-la, é participando dela. Infelizmente, ainda não cabe à nós o poder de retroceder o tempo. Portanto, decidi algo mais tradicional. Iremos reviver as raízes da humanidade sem auxílio do sobrenatural. - Constance deu um passo à frente, quase que na beira da pequena elevação que dividia o palco com o resto do salão. Assim, com um sorriso de canto e um olhar acolhedor, ela estendeu os braços. - Então, querem participar desta volta no tempo?